quinta-feira, 27 de agosto de 2009

"Espera na Varanda"

Últimos retoques.
Uma ajeitada nos cabelos, lampião aceso.
Um pouco mais de lenha para atiçar o fogo no fogão
e não deixar a café esfriar.
Na sala incenso, velas e flores.
O vinho na temperatura ideal, o guisado no forno quase no ponto.
Talheres na mesa, pronto.
A música era a da própria natureza.
Fui para a varanda de deixei-me ficar na espreguiçadeira, relembrando
os últimos acontecimentos.


O céu estava limpo, forrado de estrelas
e a lua se apresentava prata e linda.
Noite perfeita para os amantes.
Uma coruja pousou na cerca, veio me espiar,

mas parecia ter coisa melhor a fazer e se foi.
Um cão latiu lá longe, seria você chegando?
Mas o tempo foi passando e junto com a madrugada o silêncio se fez.
Cansada da agitação adormeci na varanda.


Sonhei que tua presença acontecia em todos os meus sentidos.
Ainda leio tuas últimas linhas, fazendo de conta que nunca mentiste para mim,

que tua dureza era forjada e que o exílio seria.
Sempre sinto o gosto das tuas letras, uma a uma desfazendo minha natureza humana,

tornando-me uma coisa outra que não mais te serve.
Ainda escuto os horizontes se abrindo por entre minhas coxas,

como quando pousavas tua rudez na minha carne macia e te esbanjavas
afoito nas minhas vias interiores.
Como precisei destes momentos, quando eu era a carne e tu a lâmina que me abria,

me limpava os nervos, desbravava meus segredos.
Ainda estou naquele momento.
Inútil, desfigurada.
Acontecendo apenas entre os espasmos de meu choro abundante,

invencível.

Enquanto entulhas as coisas numa colcha de cama, vejo na musculatura
de tuas costas o delinear dos movimentos do fim.
E neste entreato de nossas existências onde eu me dissolvo e tu me incorporas

desespero em busca dos lilases e magenta que procriamos em cujas texturas
arquitetamos nossos tatos e atrevimentos.
Ali, interditada, sem arte, sem alimento, sem existência sequer,

ajudo-te com as roupas e peço apenas para que deixes um vidro
do teu melhor perfume.

Mas os primeiros raios de sol vieram me despertar, era o início de um novo dia,
e a tristeza gritava em meu ser.
O vinho azedou, as velas esgotaram e dos incensos só as cinzas restaram.
O fogão de lenha estava gélido, assim como minha alma,

que de tanta espera enregelou...

Maria Flor!

5 comentários:

  1. Flor que lindo !! amei de paixão..amo seu contos.. os detalhes são tão reais que é como se eu estivesse vivenciando o momento..parabéns Flor te admiro mais do que nunca.. beijos com meu carinho..Maria Bonfá

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  2. Vou dar um chute no distinto dele...onde já se viu te deixar esperando!!!!!!
    Mas até da dor tu fazes coisas lindas!
    Tu és maravilhosa e ponto final!!!!

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  3. Maria Flor,
    tudo que você escreve transpira amor, paixão e ternura!
    Adoro ler suas poesias ....
    beijos meus

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  4. É amiga...nestas noites "nuas deles", acabamos amanhecendo "nua de nós"...
    Lindo seu texto Maria...temos algumas semelhaças nos nossos rabiscos, além dos escritos a lápis...rs...
    Meu carinho a ti Maria

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  5. FLOR....SE VC ENCOTROU CONFORTO EM MEU PEQUENO ESPAÇO...DIGO...AQUI ENCONTEI ABRIGO...

    QUE BELA É SUA POESIA!!!!

    LUPI

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Uma Florჱܓ com carinho