Era o tempo de arrumar gavetas,
remexer memórias,
afetos adormecidos pelo tempo.
Sorver a poeira do que já foi, mas que,
ainda que invisível, persiste.
Como uma espécie de desejo realizado
que comportasse o fim da solidão e do desencanto.
Folheei livros, reli cartas,
viajei através de fotografias que marcaram,
e ainda marcam, ciclos importantes da vida.
Rendi-me ao encanto de acreditar que ainda
não era altura de dar um fim à história.
Que ainda havia a possibilidade de ela se desenrolar
sob a promessa de um céu sem nuvens.
O tempo, porém, ria-se, escorrendo-me pelos dedos.
Lenta, inexoravelmente...
(Que poder têm aqueles objetos que me transportam
a uma história já perdida, inelutável, como se, rendida,
eu acabasse por me afeiçoar ao exílio da minha
própria vida?! Sempre esta ânsia dolorosa de tentar penetrar
o segredo da ausência e do esquecimento.
Sempre esta recusa obstinada de erradicar a intrusa sensação,
volteando, ininterruptamente, da incerteza sem remédio do que virá.
Sempre uma desalinhada (ir)realidade das nostalgias.
Sempre este desejo universal de um final feliz.)
Arrumei, novamente, nas gavetas,
aqueles desenraizados - tão perto e tão distantes –
pedaços de vida.
Ficou o vazio do cenário onde, outrora,
tudo soou a encantamento,
esplendor, emoção.
Restou pouca coisa.
Apenas gavetas fechadas.
A cumplicidade de um tempo irrecuperável.
E o princípio e o fim dos dias a viver.
Ainda a viver...
Maria Flor ჱܓ
ES-PE-TA-CU-LAR!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirSra. Maria Flor, parabéns... Linda. Muitolindo o teu poetar...
ResponderExcluirTrês beijos...