quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

"Naquele Tempo"


Naquele tempo as noites uivavam
por entre o arvoredo e
havia luas presas nos teus olhos.
Eram então bíblicos momentos...

Eu vinha sentar-me no teu colo
sem saber que te cresciam no peito
velhos espinhos cobertos pela solidão
do deserto.

Olhavas-me com a placidez dos pastores
que guardam pensamentos antigos
na fome calada da noite...
Vês o meu gesto de abandono?
Sou de novo menina e o
teu colo é o balanço dos meus sonhos.

Tu puxavas-me para o centro do teu corpo,
no ponto onde te crescia a solidão a fundo.
Então o dia clareava em volta dos teus olhos
e tu sorrias com a palidez do sol de Inverno.

Talvez o teu amor nascesse com as estações,
nos primeiros botões da roseira
e morresse com elas em cada maçã,
cada folha seca a rastejar na poeira...

Talvez a realidade te habitasse
desmesuradamente para que não tivesses
de habitá-la...
...é que um dia no teu olhar cresceu um tronco
e nele vieram pousar todos os pássaros mortos
da casa abandonada dos teus sonhos.

E eu desarrumei as tranças e parti
para onde as mãos tangem o vento.
Porque naquele tempo
ainda existias no fundo da minha boca
como verbo, como carne, como nome,
como o ser gramatical dos versos loucos.

E eu vertia sal na água das fontes,
se te sentia a tona do meu corpo.
Ainda não sei se foi o tempo,
se a neblina,
se um excesso de musgo...
Mas no pulsar dos dias
perdi a latitude do teu rosto,
excessivamente cavada na memória.

Eu diria se não fosse dizer pouco,
que nasceram flores sobre o teu rosto...

Maria Florჱܓ

14 comentários:

  1. "Eu diria se não fosse dizer pouco,
    que nasceram flores sobre teu rosto..."

    Basta para mostrar todo o sentimento que marca o seu poema, Maria Flor.

    Beijos.

    ResponderExcluir
  2. Lindíssimo poema!!!
    Parabéns menina.

    Abraços

    ResponderExcluir
  3. Lindos os poemas que tens aqui. Hoje vim convidar você a conhecer o Ilha da Magia, blogger onde arrisco alguns ensaios poéticos
    http://schmorantz.wordpress.com/
    o link está no leia mais no meu tradicional espaço.
    beijos

    ResponderExcluir
  4. Querida Maria Flor,

    Diante de tanta beleza precisei ler novamente e me embevecer com a sutileza destes versos, leves na cadencia pura do som das águas.

    Minha querida, vim te convidar para figurar no Mural do Escritor, lá no Empório do Café.

    Se aceitar, envie uma foto, uma breve biografia e este poema para o e-mail novosautores.grupos@gmail.com

    Se puder enviar hoje melhor, senão envia amanhã que é o dia do MUral.
    Obrigada

    Um super beijo
    Lu C.

    ResponderExcluir
  5. Oi Maria...

    Como sempre, um lindo poema eu leio aqui. Obrigado por suas palavras lá na Academia minha amiga.
    Sentimos sua falta lá na Casa da Poesia, viu?
    Convido-a a visitar o meu outro blog, o http://poeminiseimagens.blogspot.com . A hora que der, passe por lá, será uma honra.

    Abraços*

    Renato Baptista

    ResponderExcluir
  6. É maravilhoso descobrir cantinhos lindos como este.
    Parabéns, deliciei-me a ler cada texto, cada sílaba, cada metafora, cada sonho transmitido!

    Obrigada por primitir que pudesse descobri-lo.

    Uma flor

    ResponderExcluir
  7. A suavidade das palavras no cósmico espaço do tempo em que elas estão inseridas, fazem deste post uma beleza tão singela que nos dá um mundo dentro de outro mundo.

    Belo e revigoroso, este post enche a alma de cada ser que o possa ler.

    Parabéns pela intenção do que ele representa.

    Bjos, e novo dia repleto de luz e alegria.

    ResponderExcluir
  8. Maria Flor...

    Belissimo poema!
    Adorei a expressão poética e sobretudo o lirismo que enconve todo o poema!

    Beijosss
    AL

    ResponderExcluir
  9. "... E de novo acredito que nada do que é
    importante se perde verdadeiramente
    Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas,
    dos instantes e dos outros.
    Comigo caminham todos os mortos que amei,
    todos os amigos que se afastaram,
    todos os dias felizes que se apagaram.
    Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

    Miguel Sousa Tavares

    Desejo um lindo final de semana.
    Abraços com carinho.

    ResponderExcluir
  10. Nossa...

    Esse é, dos teus, o meu poema preferido.
    Vou guardar pra mim...

    bjo!

    ResponderExcluir
  11. Hoje eu não sei dizer.
    Só sei sentir..
    Há dias em que palavras
    não são capazes de traduzir
    o sentimento.Bom mesmo
    é ser compreendido
    mesmo quando não sabemos
    dizer...Amar é uma forma
    de crêr em silêncio!

    Bom Domingo! Beijos na alma!

    ResponderExcluir
  12. Amo passar por aki e saborear estes textos maravilhosos.....nada a comentar.........simplesmente encantadores

    Bom Domingo!Beijos na alma!!

    ResponderExcluir
  13. eeebaaaaaaaaa...vim pra cá pulando só com o pézinho direito...se eu pulasse com o esquerdo,ele iria no ritmo de meu coração e a paz e o encantamento de teu blog seriam prejudicados com tanto alvoroço!!!!
    Tá bom...tá bom...parei...passearei por este recanto,deslizando e partirei voando, depois de me recarregar com tanta beleza!
    Pensa comigo:Como seria minha vidinha sem o teu blog????
    Já sabes,né?
    Então... \o/VIVAAAAAAAAA\o/ ...para ti e por fazer parte de meu mundo!!!!

    ResponderExcluir
  14. Olá!!

    A caneta do poeta
    grita em silêncio
    arranha letras
    um rascunho de tinta
    desenha o papel

    Calor arrepia
    calafrio derrete
    escorre escarlate
    folhagem de letras
    restos densos
    de sua alma nua


    Amor e paz na nova semana...Beijos!!

    ResponderExcluir

Uma Florჱܓ com carinho