sexta-feira, 17 de julho de 2009

SONO

Mais um dia e a noite!
Tirei a roupa, ajeitei os lençóis, cobri-me, em refúgio.
Deitei a cabeça pesada na almofada e tentei, em vão,
adormecer.

Nos meus olhos, fechados,
a imagem de mil e uma perguntas por fazer,
coisas por contar, assuntos que ficaram por resolver,
mas as respostas, aquelas que esperamos
que venham do mar não apareceram.
Quantas vezes, deitada, chamei por ti, para conversar,
para te olhar e trazer dos teus olhos algum conforto
que me fizesse descansar e dormir.
Tantas noites passaram à procura das palavras certas,
dos sons, dos gestos, que te conquistassem à primeira,
mal te encontrasse.
Mas errei!

Virei-me para a parede, branca, sorri
e fechei os olhos para parar de pensar.
Preto, pensei - preto, negro, escuro - nada!
Umas escadas, desço os degraus um a um...

Lá em baixo um poço de água barrenta,
mais à frente uma árvore, aquela dos relógios,
onde conseguimos parar o tempo,

avançar ou voltar atrás.
Eu dei-lhe seguimento,
deixei-o correr como outra qualquer noite em que,
de mente vazia, o sono seria suficiente para esquecer tudo
e só acordar no dia seguinte,
ou na madrugada para te cumprimentar.

Fiquei acordada durante horas seguidas,
várias técnicas,
vários métodos,
posições de perder a conta,
mas os desenhos das letras surgiam
como pequenos pontos brancos
em fundo negro mostrando-me cada palavra
que te queria dizer, e só eu sei como custou ter de as apagar,
para surgirem para as apagar de novo,

uma e outra vez, repetidamente:
"te quero, te desejo,

não sei como nem por que apareceste aqui,
mas não te posso deixar fugir"...
"vá, deite, repouse em meus braços, num abraço"
- que braços?
Nos meus, nos fracos membros de quem nunca lutou o suficiente,
de quem desiste à primeira contradição,
de quem nem os sonhos são capazes de enfrentar.
Hoje hesitei não te chamei.
Ficaram por dizer tantas coisas que nem sei!

E a noite passou sorrateiramente, quase em surdina,
e pé
ante
pé...
levou-me no colo para junto do lago,
onde na margem molhei os dedos,
levei-os aos lábios e adormeci...


Maria Flor!

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Uma Florჱܓ com carinho