domingo, 17 de maio de 2009

BALADA PARA UM LOUCO
(pura poesia)

Num dia desses ou,
numa noite dessas

você sai pela sua rua ou,
pela sua cidade ou, sei lá,
pela sua vida,
quando de repente,

por detrás de uma árvore,
apareço eu!

Mescla rara de penúltimo mendigo
e primeiro astronauta a pôr os pés em Vênus.

Meia melancia na cabeça,
uma grossa meia sola em cada pé,

as flores da camisa desenhadas na própria pele
e uma bandeirinha de táxi livre em cada mão.

Ah! ah! ah!
Você ri...
você ri porque só agora você me viu.

Mas eu flerto com os manequins,
o semáforo da esquina me abre três luzes celestes.
E as rosas da florista estão apaixonadas por mim,
juro,vem,
vem, vamos passear.

E assim meio dançando,
quase voando eu te ofereço
uma bandeirinha e te digo:

Já sei que já não sou, passei, passou.
A lua nos espera nessa rua é só tentar.
E um coro de astronautas, de anjos e crianças
bailando ao meu redor, te chama:
vem voar.

Já sei que já não sou, passei, passou.
Eu venho das calçadas que o tempo não guardou.
E vendo-te tão triste, pergunto:
O que te falta?...talvez chegar ao sol,
pois eu te levarei.


Ah! Ah! Ah! Ah!
Louco, louco, louco!
Foi o que me disseram

quando disse que te amei.
Mas naveguei as águas puras dos teus olhos
e com versos tão antigos, eu quebrei teu coração.

Ah! Ah! Ah! Ah!
Louco, louco, louco, louco, louco!
Como um acrobata demente saltarei

dentro do abismo do teu beijo até sentir
que enlouqueci teu coração,
e de tão livre, chorarei.


Vem voar comigo querida minha,
entra na minha ilusão super-esporte,
vamos correr pelos telhados com uma andorinha no motor.

Ah! Ah! Ah!
Do Vietnã nos aplaudem:
Viva!
viva os loucos que inventaram o amor!

E um anjo, o soldado e uma criança
repetem a ciranda

que eu já esqueci...

Vem,
eu te ofereço a multidão,
rostos brilhando,
sorrisos brincando.

Que sou eu? sei lá,
um tonto,
um santo,
ou um canto a meia voz.


Já sei que já não sou,
nem sei quem sou.

Abraça essa ternura de louco que há em mim.
Derrete com teu beijo a pena de viver.
Angústias, nunca mais!
Voar, enfim, voar!


Ama-me como eu sou, passei, passou.
Sepulta os teus amores vamos fugir, buscar,
numa corrida louca
o instante que passou,

em busca do que foi,
voar, enfim, voar!


Ah! Ah! Ah! Ah!...
Viva! viva os loucos!
Viva! viva os loucos que inventaram o amor!

Viva! viva! viva!

(Música de Astor Piazzola
Letra de Horácio Ferrer
Intérprete – Moacyr Franco
1969)

Um comentário:

  1. Eu é que agradeço.
    Magnifica mensagem!
    Adorei sentir o sentimento do poema/canção.
    Parabens, esta perfeita!

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Uma Florჱܓ com carinho