quinta-feira, 30 de setembro de 2010

"Decorei"



Decorei o teu rosto, os teus gestos,
o som e o cheiro que te pertenciam.
Aspirava-os através da plenitude da entrega.
Sabia de cor os teus traços, o teu sorriso,
o voo do teu olhar.
Poderia pintá-los com a tinta da ternura
e de outras intrusas emoções.
Porque, ainda que retida no cais de inglórias ilusões,
sentia a claridade do teu sorriso,
e o teu olhar - agora de outrora -
cercava-me de lumes estonteados
de avassaladora loucura.
Nunca se pode ter tudo para sempre.
Assim, a memória do que foi presente chegava-me.

Era suficiente para matar a sede do meu cansaço
sempre que a tua imagem atravessava o meu coração.
Ela ancorava dentro dele.
Tu vivias dentro dele.
Eu ficava sempre no epicentro de um instante que pairava
- mas nunca acontecia - e acabava por desaguar
em lembranças,
nostalgias,
silêncios.

Nunca te disse tudo quanto era necessário dizer.
Talvez porque o tudo era feito de asas suspensas num sorriso,
num olhar, numa expectante palavra jamais consumada.

Decorei o teu rosto.
Os teus gestos.
O teu som.
O teu cheiro.
Nunca aprendi a tua alma.

Maria Flor✿ܓ


Um comentário:

  1. oi Flor que lindo poema.. menina vc é incrivel.. cadA VEZ QUE te leio..é um horizonte que se abre para mim..parabens.. lindo de viver.. saudade..beijo..beijo..beijo

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Uma Florჱܓ com carinho