Rabiscos...Escrito a Lápis

Vou espalhar a poesia
ao longo das escadarias
de veludos de carmim
de corrimões esculpidos
em túlipas.

Vou espalhar a poesia
na brisa onde o beija flor adormece
com as suas penas de esmeraldas
cobertas de musgo cintilante
e brilham as palavras
tapetes de pele de lua
(a tua)
açucenas no peito do poente
onde pouso as mãos
e os olhos cheios água .

Espectro da tua imagem
que não conheço
pois estava cega afundada no azul
assistindo à tua morte e
esse amor que foge da vista
cristalino nesse fundo furor
que sussurra a poesia.

Eu espalho a poesia
na lagoa dos teus lábios de mel
e disperso-me nos estilhaços
dos crânios em flor
que queimam e ardem
em miragens de um nada compacto
num ímpeto de cio
que exalo num gemido.

Vou espalhar a poesia como um segredo
declamando-a na cauda do cometa
para uma platéia anacrónica
num túmulo fecundo
na terra
na lama
na cicatriz
guardando-se como um verme em chamas
que dilui o sonho e se derrama
numa febre de ternura.

Que emerge da noite extenuada
pois a vigília dos anjos perde-se num rio
onde ecoa a tua voz
que não conheço
e inunda-me os tímpanos de silêncio
e revela-se em poesia
ungida pela madrugada
e que se afunda no mar.

Num rigor fátuo esvaio-me
no sémen de teu perfume
brasa incontida de sangue
um golpe na corola dos pulsos vazios
e a poesia derramada trespassa
o papel em palavras que fogem de ser escritas.

Os espinhos impetuosos
rasgam os dedos numa infusão indizível

bebo as estrelas

mato o poema

e

torno-o

eterno...


Maria Florჱܓ