Sinto cheiro de canela quando recordo você.
Estou convencida de que somente deuses
tem o poder de criar aromas tão saudosos.
Somente os deuses são essenciais
e mesmo depois de nos terem dado adeus,
deixam rastros viscerais e perfumados.
Canela tem cheiro de saudade.
Tenho como companheira uma saudade
que caminha lento,
como o caminhar de uma alma antiga,
em passos curtos.
A fatalidade é que a saudade
não tem pressa e amanhece
com cara de mal dormida
a me servir pão com arnica.
Na hora do almoço é pretensiosa
e se serve em pedaços,
de modo crocante,
estalando peito a dentro.
E se remói ao anoitecer deixando
um gosto de gengibre e malagueta,
ácida e arrogante,
me chama para apostar a vida,
colocando as cartas na mesa,
enquanto esquenta o chá de maçã.
E eu, de um jeito manso e viciada,
enfeito a sala com avencas,
calêndulas, hortênsias e margaridas
para que a saudade sinta-se em casa.
Maria Flor!
Mulher,amiga poetisa....essa balançou o mundo!!!!PARABÉNS!!!!
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